Crianças e jovens nasceram em um mundo diferente dos que já têm
mais de 30 anos. Eles vivem em um contexto que não apresenta muitas semelhanças
com aquele contexto que seus pais conheceram antes da idade adulta.
Quem tem filhos, hoje, não tem intimidade com o mundo de seus
rebentos porque não experimentou nada parecido.
Os mais novos manejam com a maior facilidade todo tipo de
traquitana tecnológica. É realmente incrível acompanhar os movimentos de seus
dedos, de tão impressionante que é a velocidade impressa nesses gestos. Aliás,
são poucos os adultos que podem, no mesmo tempo em que os mais novos conseguem,
vencer os desafios apresentados por esses jogos.
Isso significa que crianças e adolescentes é que são os
nativos deste mundo. Nós somos os estrangeiros, no máximo naturalizados.
Essa terminologia criada para apontar as diferenças no mundo
atual entre a nova geração e as outras é perfeita, não é verdade?
Há adultos que conseguem lidar com todos esses aparelhos
novos e seus recursos com muita destreza também. Mas, uma hora ou outra,
aparece um sotaque que denuncia sua origem.
Tal fato deixa muitos adultos constrangidos. Isso porque
precisam educar os mais novos e, muitas vezes, as situações que os filhos
experimentam têm características que são grandes novidades para os pais.
Vamos analisar o uso da internet por exemplo.
É grande o número de pais que considera normal a criança ou o
adolescente participar de redes sociais de todos os tipos sem qualquer
acompanhamento ou tutela.
Já ouvi mães dizerem que não é possível fazer esse
acompanhamento e nem sequer orientar porque os filhos têm mais experiências e
conhecimento do assunto do que elas - e
também porque faz parte da vida deles estarem conectados o tempo todo.
É esse o tipo de pensamento que deixa crianças e jovens à
deriva no mundo virtual. E os acontecimentos que envolvem os mais novos na
internet têm nos mostrado que não podemos deixa-los por sua conta e risco na
rede. Eles precisam de nós para aprender a viver no mundo da internet.
Crianças e jovens são ainda escravos de seus impulsos e podem
escrever o que pensam sem nenhuma regulação. Podem se arrepender depois. O
problema é que tudo, absolutamente tudo que é colocado na internet é
permanente.
Experimente, caro leitor, dar ao seu filho uma folha de papel
e uma caneta de tinta permanente. Depois que ele desenhar ou escrever algo,
peça que ele apague, impossível. Para fazer outro desenho ou texto será preciso
uma folha sobreposta. Mas a que fica embaixo permanece lá.
Assim é tudo na rede: postou, ficou. Mesmo que algo seja
apagado, alguém pode ter copiado e é por isso que permanece indefinidamente.
É principalmente por isso, mas também pela falta de domínio
sobre o que pode ser compartilhado publicamente e o que deve permanecer na
intimidade, que os mais novos precisam de nós.
Uma palavra dita pode ser esquecida. Uma foto pode ser
rasgada, queimada. As palavras escritas na rede sempre podem voltar. As imagens
registradas na internet, lá ou alhures, permanecerão.
Essa é uma característica do mundo virtual que é um perigo
para os mais novos porque eles nem percebem os riscos que correm postando um
comentário ou uma foto.
Por isso - insisto- eles precisam de nós no mundo onde vivem,
mesmo com nosso sotaque de estrangeiros naturalizados.
Folha de S.Paulo 08/05/2012
( ROSELY SAYÃO)
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