domingo, 7 de setembro de 2008

Os exemplos do Doutor Beagá


OS EXEMPLOS DO DOUTOR BEAGÁ


No dia 20 de Julho de 2008, Minas Gerais perdeu um dos seus filhos mais ilustres. Nesse dia faleceu o Dr. Célio de Castro, após passar vários anos acometido por seqüelas de um acidente vascular cerebral, que o afastou definitivamente das atividades médicas e políticas. Apesar das seqüelas motoras e da fala, permaneceu lúcido, consciente, sempre atento aos fatos da política brasileira. Durante toda sua enfermidade recebeu o apoio e carinho de familiares, amigos, e principalmente dos médicos que o tratavam, pelos quais nutria grande amizade, pois alguns deles foram seus alunos e residentes.
Célio de Castro nasceu em Carmópolis de Minas em 11 de Julho de 1932. Era o filho mais velho do terceiro casamento de seu pai, Antenor de Castro, farmacêutico na cidade de Carmópolis de Minas, com Maria de Lourdes Paolinelli.
Em Carmópolis, iniciou seus estudos básicos transferindo-se posteriormente para Belo Horizonte onde cursou o Colégio Arnaldo. Após a conclusão do curso no colégio Arnaldo, ingressou na Faculdade de Medicina da UFMG, onde se formou em 1958, quando deu início a sua brilhante trajetória nas áreas de clínica médica e medicina de urgência tendo sido considerado um dos clínicos mais importantes de Minas Gerais. A sua opção pela medicina teve grande influência, do tio e político em Carmópolis, Francisco Paolinelli, dos irmãos José Antenor de Castro, Carmelito Antenor de Castro (os três já falecidos) e José Tarcísio de Castro, oftalmologista em atividade na capital mineira.
A sua extrema perspicácia clínica, seu aguçado senso de atenção às queixas dos pacientes, aliados ao seu profundo conhecimento médico, deram-lhe grande notoriedade e respeitabilidade de seus pares. Participou da implantação dos primeiros Centros de Terapia Intensiva de Minas Gerais, tendo inclusive chefiado o serviço de urgência do Hospital de Pronto Socorro de Belo Horizonte, hoje Hospital João XXIII, que se transformou na maior referência no atendimento aos pacientes politraumatizados de Minas Gerais.
Durante sua carreira exerceu longa atividade docente em vários hospitais de Belo Horizonte como o antigo hospital Santa Mônica, hoje Belo Horizonte, Hospitais Semper e Mater Dei de Belo Horizonte. Formou inúmeros profissionais médicos que hoje se encontram em atividade em várias partes do Brasil. Publicou vários trabalhos na área médica e foi co-autor do livro Emergências Médicas, que foi traduzido em vários idiomas e incluído no currículo de várias Faculdades de Medicina do País. Possuidor de uma vasta cultura, era cercado de grandes amigos em várias áreas do meio intelectual. Tinha na leitura uma de suas grandes paixões.
Além de sua atuação como clínico, teve participação decisiva em movimentos da área médica, tendo sido presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Participou ativamente das lutas políticas para restauração do Estado democrático no Brasil, que culminou com a vitória do movimento pelas eleições Diretas Já. Eleito Deputado Federal Constituinte , em 1986, atuou nas áreas dos Direitos Individuais, Direitos Sociais dos Trabalhadores, da Saúde, Educação, incluídas no texto da atual Constituição Federal. Seu trabalho foi reconhecido pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), como um dos Deputados Nota Dez, distinção concedida a apenas quatro parlamentares, dentre os 53 representantes do Estado de Minas Gerais.
Reeleito pelo PSB, partido ao qual se integrou em 1990, foi o membro das Comissões do Trabalho e Seguridade Social, Saúde e Família. Fez parte da Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar o extermínio de crianças no Brasil. Protagonista da maior vitória eleitoral, em 1997, no País, elegeu-se prefeito de Belo Horizonte com 809.992 votos- 76,5% do total de votos válidos. Coordenou a Frente Nacional dos Prefeitos até o ano de 2000.
Reeleito prefeito de Belo Horizonte – mandato de 2001 a 2004, entrou para o Partido dos Trabalhadores em setembro de 2001. Em novembro do mesmo ano licenciou-se do cargo devido a enfermidade de que foi acometido. Durante toda a sua enfermidade permaneceu lúcido, não se entregando perante a adversidade, mostrando espírito de altruísmo e tenacidade, que foram sempre uma constante em sua vida.
O Dr. Beagá, como era conhecido carinhosamente pelo povo de Belo Horizonte, deixa um importante legado para todos nós: o exemplo da dignidade no trato das coisas públicas, o exercício ético da medicina, da política e a extrema preocupação com as causas sociais. Não angariou nenhum patrimônio econômico-financeiro, mas deixou, com o seu comportamento ético e moral, sua maior herança para os seus filhos, familiares e amigos.
O seu exemplo de vida, por certo não cairá no esquecimento, principalmente daqueles que tiveram a honra de com ele trabalhar, e eu como sobrinho e médico, me incluo no rol dessas pessoas.

Muito obrigado , Dr. Célio.


Roberto Paolinelli de Castro
Conselheiro do CRMMG.
Fonte : Jornal do CRM
Nº 15 - Agosto de 2008.
Posto aqui a minha singela homenagem ao nosso querido Tio Célio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Beth!
Gostaria de saber mais sobre o Dr. José Antenor de Castro. Quando ele nasceu e se trabalhava no Hospital São José onde nasci. E se for o mesmo, foi ele quem me trouxe ao mundo no ano de 1958.
Regards,
Glaucia